segunda-feira, 8 de abril de 2013

Homenagem às mães

M  à E

          Mãe, hoje vim te visitar, e ao entrar na sala antiga, onde a saudade ainda fala do dia em que parti, lembro que te deixei chorando e fui correr mundo.  Foram os primeiros vôos deste pássaro aventureiro que existe em mim.  Naquele dia, não soube eu avaliar a tristeza que ali deixei no sentimento dolorido de tuas lágrimas.  Mas que fazer? Se eu precisava voar.  A vida gritava por mim lá fora, a porta das ilusões se abria para mim, e assim achei normal que chorasses. Pensei comigo:- Isso passa, e realmente passou, acabaste por te acostumar com a minha ausência, entendeste por fim que eu tinha um caminho a seguir, um destino a cumprir.
          Sei que choraste outras vezes, quantas nem sei, pois embora não tenha testemunhado esses momentos em que a saudade te falava de mim, ainda assim, senti muitas vezes nas minhas preces, entre as tristezas que a vida me deu, a tua presença amiga entre lágrimas que de meu rosto escorriam ao lembrar das tuas.  Quantas vezes mãe, no tropeço do meu caminho, nas angústias e decepções que me faziam chorar, eu lembrei do teu colo doce, a tua mão amiga, o teu sincero olhar quando me avisavas das maldades do mundo, dos perigos e desilusões que esperavam por mim, e toda noite, sozinho em meu quarto busquei teu afago e consolava-me ao dizer para o vento:- A bênção da minha mãe.  Era como se tu me ouvisses e agasalhasses meu sono, pois sei que naquela hora, tu também elevavas teu pensamento ao Céu e na tua prece pedias a Deus por mim.
          Hoje, volto a esta mesma sala, vejo o mesmo sofá, a mesma mesa, a cristaleira das minhas visões, lembrei dos meus medos, das trovoadas assustadoras.  Tudo estava ali como nos velhos tempos, intocável, cobero de saudades, tudo menos a tua doce presença e um vazio enorme invadiu meu coração.  Senti que o tempo é nada, que as iluões que gritaram por mim lá fora além daquela porta, se desvaneceram foram simples ilusões, meus sonhos voaram no vazio do nada.   Eu voltei, voltei arrependido por te deixar chorando e ir buscar um tempo, que nem me deu tempo de ver que esse tempo acabou.
          Sinto que estás aqui, pois tua presença permanece viva em tudo que tocaste.  Ainda respiro a paz e o perfume das flores que plantaste na minha alma. 
          Queria hoje te ver chorar, chorar sim e muito, pela alegria de me veres voltar, no entanto vejo que já não choras, pois sei, tenho certeza que estás sorrindo, feliz por me veres aqui. Em minha prece, Deus me permite ver-te num jardim florido, ao lado da Virgem Maria entre as flores que só as mães merecem. Francisco Fernandes - Escritor e Artista Plástico. Atelier Arco Iris de Conservatória. Publicado no Jornal Revista Caderno Especial - Barra do Piraí - Maio de 2005.
         
         

          



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